terça-feira, 5 de agosto de 2008

Arte e Jornalismo

Segundo Camus “a arte e a revolta só morrerão com a morte do último homem”. Adotando esta máxima do escritor e filósofo argelino como referência, podemos chegar a importantes conclusões acerca da importância da arte para o jornalismo.

A arte é inerente ao ser humano, a fazemos desde os nossos primitivos ancestrais – muitas vezes sem ter consciência disso –, nas mais diferentes culturas, espaços físicos e temporais. O fazer artístico, o objeto artístico – mas não só o objeto concreto em si, mas a música, por exemplo – acaba se tornando, um importante subsídio para os historiadores. (Não entrarei aqui no mérito de discutir o que é arte, quais os conceitos a definem, ou quem define estes conceitos; se não, me prolongaria em um tema polêmico do qual não tenho conhecimento suficiente para discorrer). Através destas manifestações de expressão humana, pode-se traçar um perfil religioso, social, cultural, econômico, da sociedade e do período histórico pesquisado. A arte de um determinado artista pode nos revelar muito dos seus contemporâneos. Assim, por exemplo, podemos ter uma visão mais ampla no período renascentista, das revoluções no pensamento filosófico, político, da crescente valorização da ciência, através das obras dos artistas deste período.

Portanto, é possível encontrar inúmeras informações através das obras de arte. Mas e o jornalismo onde entra nesta história? Oras, sendo o jornalista alguém que invariavelmente atua como um cronista do seu tempo, e "leva" até o público o que acontece na sociedade, no seu período histórico, não deixa de trabalhar como um historiador, sociólogo ou antropólogo. Embora obviamente que não com tantas propriedades quanto os reais profissionais destas áreas da ciência social. Se nossa função é informar as pessoas, devemos ter conhecimento humanístico para isso, afinal comunicação social também é uma das vertentes da ciência social. Temos que conhecer, mesmo que de forma menos profunda, ou “especializada” como preferem alguns, as correntes e os diversos movimentos artísticos que pontuaram a história da humanidade, só assim poderemos trabalhar um “olhar” mais analítico e ter uma compreensão mais abrangente dos nossos contemporâneos.

Porém há um fator importante que precisa ser avaliado, e que foi amplamente discutido por diversos pensadores principalmente no último século, vale destacar em especial os membros da Teoria Crítica, que é a banalização da obra de arte, promovida em grande parte pelos veículos mídiaticos. Vivemos em um período onde a reprodução das grandes obras artísticas é um fato. Elas são facilmente manipuladas, descaracterizadas, vulgarizadas, e principalmente são ‘separadas’ do contexto social-histórico original. Transformamos a obra de arte, a cada dia mais em um simples objeto decorativo, supérfluo, mantenedor do estatus social.

Talvez seja este o grande desafio que o jornalismo, e de uma forma geral, os veículos de comunicação social terão em relação à arte. Como torná-la difundida na sociedade sem desvirtuá-la, ou vulgarizá-la? Como propor às pessoas discussões e análises mais “profundas” quanto ao objeto artístico, sem torná-lo chato, ou hermético? Por último, mas não menos importante, como retirar da arte este conceito elitista, seja econômico ou intelectual, que durante séculos vem sendo ligado a ela? Não tenho respostas para tais questões, mas espero que um dia possamos todos, independente de classe social ou nível de informação, discutirmos e ter consciência da importância da arte para o engrandecimento humano. Utopia? Certamente. Mas é bom sonhar, às vezes.


Jean Carllo

Adoração dos Magos (Leonardo da Vinci)

3 comentários:

"O Autor", disse...

Penso seriamente em seguir essa arte... Concluí o básico e ando meio "vagando" por ai.

Blog Perfeito!

"O Autor", disse...

Devidamente add aos meus blogs favoritos!

Anônimo disse...

Adorei o texto e concordo plenamente com a idéia defendida.