sábado, 9 de agosto de 2008

Tudo sobre Filhos da mãe


Tudo bem, eu já chamei esse cara de viado, bicha louca, queima-rosca, frutinha e mais uma série de termos pejorativos que toda criança usa para classificar aquele coleguinha que não joga bola e nem brinca de carrinho na escola na hora do recreio.Porém ainda tenho uma boa desculpa, eu não conhecia sua obra.
Estou falando de ninguém menos que o grande cineasta espanhol Pedro Almodóvar, o homem que me fez chorar.Pasmém! Com tramas envolvendo explicitamente a temática homossexual. Preconceituoso, eu? De maneira alguma, apenas nasci no país do futebol, e aqui conforme nossos dogmas culturais estamos habituados a basear o caráter das pessoas nas roupas que elas vestem, na cor da sua pele e de alguns anos para cá-quando isso virou moda-na opção sexual. Quando digo nós, quero dizer muita gente mesmo. Somos todos potencialmente preconceituosos quando um rosto estranho nos é apresentado, às vezes nem há necessidade de se ver o rosto como foi o caso de Almodóvar comigo, apenas uma informação básica-”e de extrema importância”-, como por exemplo a sua sexualidade ou o seu salário já é o suficiente para traçarmos o perfil ético-sócio-cultural de qualquer um(e ainda ouço esse papo de hipocrisia).
Eu nunca poderia imaginar que um “boiola” lá da Espanha, fosse capaz de fazer uma cena tão maravilhosa quanto aquela em que Caetano Veloso-”outro boiola”-simpáticamente faz um biquinho para entoar da forma mais doce o refrão de Cucurrucucu Paloma no filme Fale com ela-aquilo foi emocionante. Sinceramente não seria capaz mesmo, porque desde muito pequeno eu ouço dizer que homossexual não faz nada que presta, e criança já viu né...Acredita em tudo que os adultos falam.Deus é prova disso.
Se nas escolas ensinassem que o “viadinho” também é gente, talvez não existisse nem o desprezo com base nas classes sociais que se mostra cada dia mais poderoso no nosso dia-a-dia com o crescer do capital e da ignorância, talvez não existisse esse negócio de que “preto” na rua à noite é bandido, de que desempregado é vagabundo e de que filho de padre é santo. Talvez com uma educação assim, o mundo se tornaria até um lugar mais gay para se viver.

Texto enviado por Henrique Emidio, o mais poeta dos marginais (ou o mais marginal dos poetas) de Passos/MG. Confiram mais em http://recantodasletras.uol.com.br/autores/henriqueemidio

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