sábado, 2 de agosto de 2008

Abobrinhas...

Há determinadas situações em que só conseguimos nos expressar através das palavras de outrem. Recorremos, aliás, frequentemente aos tão famigerados jargões televisivos, aforismos filosóficos, ou até mesmo ‘pérolas’ de amigos e conhecidos quando temos a necessidade de transferir para “outra voz que não a nossa” a responsabilidade pelo o que é dito/escrito. Essas referencias que fazemos – algumas vezes sem termos muita consciência do real valor de sentido que carregam, porque de tão banais e/ou banalizadas se tornam desgastadas e ‘ocas’ semanticamente –, ilustram ou endossam o que pensamos. Mas é lógico, para que tenha essa espécie de voz que reafirme a minha, por exemplo, tem que existir entre o citante e a citação certa identificação, analogia presente mesmo momentaneamente. Pois bem, hoje me aproprio dos versos do poeta-músico Itamar Assumpção para manifestar o que penso. Faço das palavras dele as minhas, do seu discurso poético o meu. Apreendo para mim os desejos escritos e inscritos no poema. Ao resto silencio. Itamar falará por mim:


Abobrinhas não

Cansei de ouvir abobrinhas
vou consultar escarolas
prefiro escutar salsinhas
pedir consolo às papoulas
e às carambolas
pedir um help ao repolho
indagar umas espigas
aprender com pés de alho
sobre bugalhos
ouvir dicas das urtigas
e dessas tulipas
um toque pro miosótis
um palpite pro alpiste
uma luz da flor de lótus
pedir alento ao cipreste
e pra dama da noite
pedir conselho à serralha
sugestão pro almeirão
idéias para azaléias
opinião para o limão, pimentão
abobrinhas não



Jean Carllo



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