quarta-feira, 23 de julho de 2008

A indefinição do ser


Quem é aquele ser estranho a caminhar distraidamente por estas remotas ruas, em meio a cães e pessoas desta cratera lunar no interior mineiro? Quem pode ser, o que pode ser? Ele está se aproximando... Será um humano? Só se for em demasia, pelo jeito... Parece carregar algo embaixo do braço, será uma Bíblia? Não, não, já posso vê-lo melhor... Oras, é só o estranho do Jean! Aposto como em lugar da Bíblia ele traz consigo um desses calhamaços de um... Que nome era aquele escrito na capa do livro? Han, que palavra estranha... Acho que Dostoik... Não, é Dostoievski! Quanta frustração... Ao longe me parecia algo mais exótico diferente do marasmo social que nos circunda, mas sendo o Jean não há nada de novidade. Peraí, a não ser que você – é você mesmo, o leitor dessas pouco eruditas linhas –, não o conheça (?!). Talvez então seja melhor lhes contar algo a mais desse tal Jean, que se auto-intitula esquizóide, pu-bli-ca-men-te, acreditam?

É verdade que não sei muita coisa sobre ele – como se alguém gostasse de saber muita coisa sobre ele, aliás –, o que sei é que me contaram que não sei quem falou que ouviu ele falar para certo amigo dele – amigo! – que ele, Jean tem verdadeiro horror e até discrimina uma espécie de “massas compactas”. Eu sinceramente, caro leitor, não compreendi muito bem o que venha a ser massas compactas. Será que ele não gosta de macarrão, ou coisa do tipo? Se for realmente isso, já não é bom sinal, afinal quem não gosta de uma boa massa não pode ser considerado bom da cabeça. Gente normal, cá pra nós, jamais recusaria uma boa lasanha! Talvez isso explique a magreza etíope dele... Pois é, mas voltando ao dito cujo e me atrelando aos fatos, sei que o mesmo cursa Comunicação Social e que, pasmem, tem ‘pretensões literárias’. Como eu soube desses traços relevantes da personalidade dele? Explicarei. A primeira foi fácil, andei conversando com algumas pessoas e descobri que ele estuda na cidade vizinha, aluno de jornalismo vejam bem, por isso que não temos coisas positivas na mídia, gente como ele não deveria ser formador de opinião. Aliás, sobre esta definição: formador de opinião – eu mesmo ouvi com estes santos ouvidos que possuo –, o nosso jornalistinha não aceita cordialmente. Pra ele, e eu ouvi muitíssimo bem, jornalista tem que ser formador de dúvidas e não de opiniões, vejam que absurdo é a mente desse coitado! Agora difícil mesmo foi descobrir que ele escreve – e escreve não como eu ou você, presumo; que nos utilizamos desta técnica em situações especificas e objetivas. Tive que fazer muita investigação, sondagem, trabalho de campo, sei lá mais o quê, pra lançar um lume sobre esta sólida escuridão. É verdade que ele tem alguns contos ou coisas do gênero; é também verdade que ele não os divulga, creio que por vergonha na cara, pois são péssimos. Nunca tinha lido umas coisas tão estranhas, metalingüísticas, influenciadas por alguns depravados que eu nunca ouvi falar, mas que ele cita muito nos seus escritos: uns tais de Sade, Nietzsche, Sartre, Kerouac, Deleuze, Noll...

Pseudo-intelectual. É isso o que ele é. Com essa cara, esses óculos, esse papinho de literatura, cinema de arte, músicas desconhecidas... Certamente um imoral, agnóstico, quiçá ateu, meu Deus! Temos que mobilizar a boa sociedade, as pessoas de bem para tomarmos uma atitude e extirparmos essa jabuticaba podre do nosso meio! Existe jabuticaba podre? Ah, não vem ao caso no momento... Esse esquizóide não pode continuar caminhando como um de nós. Quer queira quer não, em breve ele será sim, um formador de opinião. Vocês têm que me apoiar, temo pelas nossas jovens mentes que desconhecem o perigo do pensamento livre. O porquê de tanto temor?! Não me digam que não sabem que ele agora vai colaborar com suas idéias absurdas num blog? Será o fim. Não poderemos permitir. Clamo por: Censura, Censura, Censura!...

E lá vai o tal do Jean tranqüilo e displicentemente caminhando. Aquilo não é um ser, é algo indefinido e indefinível...


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