terça-feira, 29 de julho de 2008

A Globalização pela ótica da Periferia

Finalmente assisti – porque desde o seu lançamento ansiava por vê-lo –, o documentário “O Mundo Global Visto do Lado de Cá” de Silvio Tendler. Certamente um excelente filme com ótimas imagens e entrevistas. No entanto hoje o meu foco principal não será o documentário e sim o sujeito documentado: Milton Santos. E escrever sobre esse homem não é das tarefas mais fáceis para mim. Desde a minha adolescência nutro por ele uma profunda admiração, uma espécie de referencial de pensamento e ética intelectual.

Mas quem é este Milton Santos, deve estar se perguntando alguns de vocês. Portanto, aos que não o conhece um pequeno resumo biográfico: Milton Santos nasceu em 1926 na Bahia. Neto de escravos foi alfabetizado em casa pelos pais que eram professores, formou-se em direito, exerceu o jornalismo e foi para a França, onde se tornou doutor em geografia. Lecionou em várias partes do mundo como França, Canadá, EUA, Venezuela e países africanos. Em 1978, voltou para o Brasil e, a partir dos anos 90, tornou-se conhecido como um dos principais críticos das idéias neoliberais que, naquela década, conheceram o ponto máximo de seu prestígio. Morreu em 2001 tendo recebido mais de 20 títulos de Professor Honoris Causa e o Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud, o “Nobel da Geografia”. Milton foi um intelectual como poucos no Brasil, aliás, se auto definia como “um intelectual tal qual Sartre”. Um intelectual que toma partido (e partido aqui não significa partidarismo) no tempo em que vive, que fala para fora do âmbito das academias e das universidades, que coloca o seu "instrumento de trabalho" – a formulação teórica, a reflexão, o discurso e o ensaio reflexivo –, a favor da existência humana e muito pouco a favor de sua própria profissão.

Ao ser questionado pelo documentarista Tendler se era difícil ser um intelectual negro no Brasil, Santos astutamente responde: “É difícil ser negro e ser intelectual no Brasil”. Enfim, “O Mundo Global Visto do Lado de Cá” sintetiza brilhantemente o pensamento de Santos, o título faz referência ao processo globalizante pensado a patir do “Terceiro Mundo”, o Sul em desenvolvimento e subdesenvolvido. Nada mais atual nesses tempos em que se debate uma possível crise alimentar, aquecimento global, poluição. Temas atualmente recorrentes às pautas jornalistícas.

Foi, de fato, emocionante ter assistido Milton, visilmente doente ele morreria 5 meses após a gravação da entrevista para o documentário, embora com o mesmo raciocínio ferino e analítico acerca da contemporaneidade pelo qual foi reconhecido. Isso se evidencia pelas suas últimas palavras ao documentarista: “... estamos fazendo o ensaios do que será a humanidade. Nunca houve.”


Jean Carllo

3 comentários:

Flávio Monteiro disse...

Muito sagaz o Milton Santos. De fato no Brasil é dificílimo, quase uma quimera, ser qualquer coisa digna de receber o adjetivo "autêntico". Viver a sua própria natureza em sua plenitude,ser original, ter idiossincrasias, em suma, ser um indivíduo individual e não coletivo ou massificado, é um fardo que muitos carregam e vão carregar até o fim, pois é impossível se tornar estúpido, como demonstrou Martin Page em seu livro sobre o permanente deslocamento de um intelectual apegado às diversas formas de arte em uma sociedade mesquinha e materialista. Como diria Dostoiévski, o que ocorre é um embate entre o "homem de ação" e o "homem clarividente".

Albano disse...

Simplesmente perfeito este post cara... não precisa d comentarios sobre o que vc ecreveu e sim d aplausos por vc ter demonstrado algo q amuito tempo eu náo via em um texto: - A Autênticidade de um ser Humano!

Juhh disse...

Galerah..Show esse blog...
ta d parabéns!!
Mto passa...
bjuh´sss