segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Je Vous Salue, Sarajevo




De certa forma, medo é a filha de Deus, redimida na noite de sexta-feira.
Ela não é linda. É zombada, amaldiçoada e renegada por todos.
Mas não entenda mal, ela cuida de toda agonia mortal, ela intercede pela humanidade.
Pois há uma regra e uma exceção. Cultura é a regra. E arte a exceção.
Todos falam a regra:cigarro, computador, camisetas, TV, turismo, guerra. Ninguém fala a exceção. Ela não é dita, é escrita: Flaubert, Dostoyevski. É composta: Gershwin, Mozart.
É pintada: Cézanne, Vermeer. É filmada: Antonioni, Vigo.
Ou é vivida, e se torna a arte de viver: Srebenica,Mostar, Sarajevo.
A regra quer a morte da exceção. Então a regra para a Europa Cultural é organizar a morte da arte de viver, que ainda floresce. Quando for a hora hora de fechar o livro, eu não terei arrependimentos. Eu vi tantos viverem tão mal, e tantos morrerem tão bem.
Jean Luc Godard, in Je Vous Salue Sarajevo(curta - metragem)- 1993.




Godard soube explorar como ninguém linguagem e imagem. Seus filmes herméticos são odiados por muitos e defendidos por outros. Glauber Rocha disse certa vez que, para ofendê-lo, bastaria que alguém falasse mal de Godard na sua frente.
O homem é o maior cineasta vivo. Mesmo não fazendo mais filmes(o último longa – metragem foi o dificílimo Notre Musique), ele merece esse posto(é discutível, claro).
O interessante nesse curta é que a única imagem utilizada é uma foto de guerra dos fotógrafos Ron Haviv e Luc Delahaye. Dois minutos, poucas palavras e zás! Está criada uma pequena obra-prima. Mais uma de tantas com a assinatura do mestre GODard. Genial, no mínimo.
E termino com o chavão: ''ame ou odeie''.

Um comentário:

Henrique Hemidio disse...

Ainda vou ter que ler umas trinta vezes esse texto pra sacar todo o potencial da coisa, mas a música e as imagens são legais...quem narra é o próprio Godard?