Na próxima quarta-feira, dia 13 comemora-se o dia da Abolição da Escravatura, a Lei Áurea. Equivoco meu, perdão. Não há comemoração (se ainda existe é pouca e irrelevante). A referida data conhecida como o dia de libertação dos negros – interpreto tal fato como ironia histórica – nos últimos 10 anos (estimativa fundamentada no meu achismo) perdeu a primazia para o 20 de Novembro. Houve, dessa forma, uma espécie de esvaziamento simbólico, perda de significação acerca da Lei assinada pela graciosa princesa Isabel em detrimento ao Vinte de Novembro, marco da morte de Zumbi e derrocada do Quilombo dos Palmares.
Migração necessária? Creio que sim. A Lei Áurea foi mais benéfica para os possuidores de escravos do que para estes. É preciso lembrar que naquele momento ter escravos era mais caro (ter que alimentar, vestir e oferecer “moradia” mesmo que precariamente é um “rombo no orçamento”) do que contratar trabalhadores “livres”. Assim feita, a Lei é áurea para os grandes fazendeiros que continuaram senhores, embora de mãos imigrantes. Ao negro, há que se generalizar, restou adaptar-se a uma realidade estranha e para a qual estava despreparado. Ao comemorarmos o 20 de Novembro como a dia da Consciência Negra, agregamos a ele novos valores mais afeitos ao movimento negro. É preciso um dia, semana ou mês da Consciência Negra? Fico em dúvidas. Temos um dia da Consciência Branca? Mesmo assim é pertinente lembrarmos do negro como exceção, pois o sistema capitalista (ideológico e econômico) implantado no Brasil tornou-o exceção (não nos esqueçamos, óbvio, de outros elementos sociais que também são marginais ou marginalizados na Pátria amada, salve salve!).
Não explorei, e nem mesmo entrei, em pontos importantes para uma melhor compreensão deste que é um tema tão complexo. São perspectivas que devem e só podem ser iluminadas a partir de um aprofundamento em estudos que apreendem facetas ideológicas e como esta se manifesta. Aos interessados indico Muniz Sodré, com quem, aliás, encerro este post: “Embora o racismo ideológico tenha sido duramente atingido, persiste com força ainda maior o movimento de intolerância e exclusão do outro em representações, pratica se fatos miúdos do quotidiano das classes sociais contemporâneas. O paradigma perdeu a coerência ou a visibilidade enquanto modelo doutrinário, mas ancorou-se no fundo da consciência pequeno-burguesa, difratando-se, como uma espécie de fenômeno social global, no corpo das práticas sociais ultramodernas.”
Jean Carllo
Jean Carllo
2 comentários:
Como responder a esse post, caro Jean?
- Posso dizer que ''tudo é relativo'';
- Dizer que ''ficou legal, gostei!''
- Ou fazer críticas infundadas, calcadas em pré-conceitos, num discurso tendendo à polêmica e com um quê de ''''intelectualismo'''
Mas esse tipo de comentário deixo para os demais.
hahaha :)
----+++
O negro como exceção,em vários aspectos, se tornou, como diz esse techo que você citou do Sodré,
''uma espécie de fenômeno social global'',tão enraizado na consciência de todos que é algo de dificílima reversão.Fazer com que as pessoas repensem o negro é uma tarefa árdua.Mas não creio que seja impossível.
No mais, posso finalizar dizendo que aguardo ansioso pelo seu tcc.
Abraço`.
"O negro como exceção,em vários aspectos, se tornou, como diz esse techo que você citou do Sodré,
'uma espécie de fenômeno social global',tão enraizado na consciência de todos que é algo de dificílima reversão.Fazer com que as pessoas repensem o negro é uma tarefa árdua.Mas não creio que seja impossível." Sensatez admirável e rara, Lucil. Em relação ao TCC não espere muito, mas teremos Foucault, Ricouer e Bakhtin. O que sairá dessa "mistureba"? Muita loucura, certamente. hahahaha
Postar um comentário