quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Senta que lá vem História...

Hoje decidi me aventurar por uma área nunca antes desbravada por mim: a atual crise financeira. Tenho acompanhado o desenrolar dos acontecimentos como qualquer outra pessoa interessada no burburinho que se ergue em torno da “desaceleração econômica” mundial. E como a grande maioria, também não entendo praticamente nada do idioma dos economistas – o economês – e muito menos seus cálculos mirabolantes. Escrevo, portanto, direto do senso comum. Aliás, prefiro afirmar que escrevo para lembrá-los do peso da História...

Em 4 de dezembro de 1928 o então presidente dos EUA, Calvin Coolidge em mensagem ao Congresso profetizou: “Nenhum Congresso dos Estados Unidos já reunido, ao examinar o estado da União, encontrou uma perspectiva mais agradável do que a de hoje [...] A grande riqueza criada por nossa empresa e indústria, e poupada por nossa economia, teve a mais ampla distribuição entre nosso povo, e corre como um rio a servir à caridade e aos negócios do mundo. As demandas da existência passaram do padrão da necessidade para a região do luxo. A produção que aumenta é consumida por uma crescente demanda interna e um comércio exterior em expansão. O país pode encarar o presente com satisfação e prever o futuro com otimismo.” O Sr. Calvin errou muitíssimo a sua previsão de futuro. Como pode ser comprovado por qualquer pessoa que tenha estudado História no colegial, em menos de um ano após a “Mensagem” aconteceu a Quebra da Bolsa de Nova Iorque. Um período difícil se instaurou no mundo (pelo menos nas regiões com relações comerciais mais ‘desenvolvidas’), e teoricamente aprendemos uma coisa: o capitalismo não era tão seguro quanto diziam os seus defensores.

1929...

O historiador Eric Hobsbawm em seu livro a Era dos Extremos de 1994, escreveu que “a grande Depressão confirmou a crença de intelectuais, ativistas e cidadãos comuns de que havia alguma coisa fundamentalmente errada no mundo em que viviam. Quem sabia o que se podia fazer a respeito? Certamente poucos dos que ocupavam cargos de autoridades em seus países [...]” Alguma semelhança com o período atual? Calma que o historiador continua a análise, “até onde se podia confiar nos economistas, por mais brilhantes que fossem, quando demonstravam, com grande lucidez, que a Depressão em que eles mesmos viviam não podia acontecer numa sociedade de livre mercado? Economistas que aconselhavam que se deixasse a economia em paz, governos cujos primeiros instintos, além de proteger o padrão ouro com políticas inflacionárias, era apegar-se à ortodoxia financeira, aos equilíbrios de orçamento e à redução de despesas, visivelmente não tomavam melhor a situação.” E para finalizar Hobsbawam arremata: “aqueles que entre nós que viveram aos anos da Grande Depressão ainda acham impossível compreender como as ortodoxias do puro mercado livre, mais uma vez vieram presidir o período global de Depressão em fins da década de 1980 e 1990, que mais, uma vez não puderam entender nem resolver. Mesmo assim, esse estranho fenômeno deve lembrar-nos da grande característica da história que ele exemplifica: a incrível memória curta dos economistas teóricos e práticos. Também nos dá uma vívida ilustração da necessidade, para a sociedade, dos historiadores, que são os memorialistas profissionais do que seus colegas-cidadãos desejam esquecer.”

...2008

Oras, alguém deveria ter ensinado o Sr. Calvin a fazer previsões como as de Eric, baseadas em análise critica e estudos sérios. Melhor: alguém deveria ter ensinado a alguns governantes, investidores e economistas que cair em grandes ‘ciladas’ econômicas por ausência de consciência histórica é sinônimo de demasiada ignorância.

E agora para encerrar este post, a resposta do historiador Eric Hobsbawm (já com mais de 90 anos) quando perguntado em entrevista recente à BBC Brasil se ele se sentia recuperado após anos de embates com a “opinião intelectual” que ia de encontro aos alertas dele. Hobsbawm respondeu: “Sempre dissemos que o capitalismo iria se chocar com suas próprias dificuldades, mas não me sinto recuperado. O que é certo é que as pessoas descobrirão que de fato o que estava sendo feito não produziu os resultados esperados. Durante 30 anos os ideólogos disseram que tudo ia dar certo: o livre mercado é lógico e produz crescimento máximo. Sim, diziam que produzia um pouco de desigualdade aqui e ali, mas também não importava muito porque os pobres estavam um pouco mais prósperos. Agora sabemos que o que aconteceu é que se criaram condições de instabilidades enormes, que criaram condições nas quais a desigualdade afeta não apenas os mais pobres, como também cada vez mais uma grande parte de classe média.”


Que assim seja!



Jean Carllo

3 comentários:

Bruno Caccavelli disse...

Clássico. Gostei da relação entre fotos.

Henrique Hemidio disse...

Eu ainda vou mais longe...
"O capitalismo gera o seu próprio coveiro."
Karl Marx

Luciana Grilo Ricardino disse...

assim caminha a humanidade, amiguinho! Que Deus nos proteja porque infelizmente estamos todos no mesmo barco e nossas vidas estão sempre nas mãos de pessoas despreparadas que servem a um sistema falido. Parabéns pelo texto. Também gostei da relação das fotos.bj.